Há dias um conhecido locutor de TV dizia que um dos seus convidados se queixou porque ele não o tratava por doutor!
Como é possível ainda haver este complexo na sociedade portuguesa? Já vi muitos estrangeiros ridicularizarem Portugal e os portugueses por termos esta obsessão doentia por títulos académicos. Bons profissionais são rejeitados por não o terem e medíocres são promovidos por terem! Ninguém consegue quantificar os custos para a economia desta mentalidade sem sentido.
Um ambiente de trabalho em que cada um trata os outros pelo nome de nascença e o trabalhador se mede pelo que faz e sabe e não pelo artifício que lhe escreveram atrás do nome, é muito mais sadio e, acima de tudo, mais produtivo, do que um em que estas manias de tratamentos entre colegas por dr. ou sr. ou o diabo a 4, são impostas por uma norma não escrita.
De onde surgiu esta saloia característica dos portugueses?
Na época do Estado Novo, o Governo, como hoje acontece, escolhia os dirigentes da administração pública e se limitasse a escolha aos académicos era mais fácil seleccionar aqueles que eram da confiança do regime. Se qualquer um pudesse ser director geral, por exemplo um funcionário com 30 anos de casa, o leque de escolha seria mais alargado e o perigo de premiar insurrectos políticos seria considerável.
Com o tempo, o endeusamento dos académicos cimenta-se num ápice e quem não era "formado" não era credível e passava a ser uma carta fora do baralho.
Com o tempo, o endeusamento dos académicos cimenta-se num ápice e quem não era "formado" não era credível e passava a ser uma carta fora do baralho.
Esta poderá ser uma das causas da obsessão nacional com o canudo.
Milhares de profissionais competentes foram ultrapassados por miúdos graduados, independentemente de estes serem ou não competentes, instalando o desânimo e a descrença. Para quê esforço e trabalho árduo se daqui por 20 ou 30 anos qualquer trabalhador é ultrapassado de forma humilhante por um puto universitário?
Milhares de profissionais competentes foram ultrapassados por miúdos graduados, independentemente de estes serem ou não competentes, instalando o desânimo e a descrença. Para quê esforço e trabalho árduo se daqui por 20 ou 30 anos qualquer trabalhador é ultrapassado de forma humilhante por um puto universitário?
Assim, os académicos substituíram os fidalgos na função de gerir a sociedade e a economia portuguesa. E sem qualquer entrave ou obstáculo. Pelo contrário, o povo amesquinhado aceitava e defendia plenamente a situação.
Ora, qualquer um já assistiu a uma promoção de um miúdo saído da faculdade, em detrimento do tal funcionário com décadas de serviço e que sabe tudo o que há para saber para exercer a função. Aliás, em muitos casos, a formação dada aos tais putos da universidade para que consigam exercer o cargo é dada pelos antigos funcionários do quadro, o que não deixa de ser caricato.
Ora, qualquer um já assistiu a uma promoção de um miúdo saído da faculdade, em detrimento do tal funcionário com décadas de serviço e que sabe tudo o que há para saber para exercer a função. Aliás, em muitos casos, a formação dada aos tais putos da universidade para que consigam exercer o cargo é dada pelos antigos funcionários do quadro, o que não deixa de ser caricato.
Felizmente já não vivemos em ditadura e o nosso país, caso queira progredir, deverá optar por escolher sempre os melhores para o cargo de chefia e não limitar a escolha aos que tenham crivo escolar académico. Esta premissa é válida tanto na Administração Pública como nas Empresas Públicas ou no Sector Privado.
O curso é apenas uma ferramenta da bagagem cultural de cada um e não pode, à partida, garantir a excelência, a competência e a honestidade no local de trabalho. Um curso dá muito trabalho, é caro e tem valor, mas cabe ao encartado provar que é melhor que os restantes colegas mais antigos e não o contrário.
Mas a táctica do animal político Salazar teve consequências negativas até nos dias de hoje.
Os cursos técnicos acabaram. Inacreditavelmente, entendeu-se no Governo (pós 25 de Abril) que todos os portugueses se deveriam licenciar e resolveram acabar com a "descriminação" dos cursos técnicos. Hoje a economia sofre com falta de técnicos especializados e o Estado tenta colmatar esta falha com cursos "soft" ao Sábado de manhã, ou à semana à noite, rapidamente e de que pouco ou nada valem. Os técnicos portugueses de hoje, que são essenciais para qualquer economia, são autodidactas esforçados. Este método de desenrasca não resulta porque um bom técnico tem de ser formado na escola.
Mas há mais.
Os pais da geração que hoje tem 30, 40 anos, empenhavam o que fosse preciso para formar os filhos. Compreende-se, os pais querem o melhor para os seus filhos e como viam os licenciados venerados, a viver bem e a passarem à frente dos restantes cidadãos, lutavam com todas as forças para dar um curso aos seus. Nos anos 90 criou-se assim uma grande oportunidade de negócio que rendeu milhões a uns quantos investidores. Com a abertura de inúmeros cursos superiores em universidades privadas e o aumento exponencial dos cursos nas universidades públicas e com uma enorme procura na sociedade, o número de licenciados multiplicou-se várias vezes. Como resultado, o licenciado mantêm alguma relevância social mas já não tem o mais importante: a garantia de emprego. Hoje vemos milhares de formados a exercerem cargos de salário mínimo sem qualquer relevância. Continuam a ser os preferidos e a ocupar os cargos importantes, mas há milhares que não conseguem atingir esse patamar, juntando-se ao grupo dos inúmeros trabalhadores preteridos injustamente na ascensão económica.
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