Autor Francisco Sarsfield Cabral
É grande a preocupação no Ocidente com a quebra relativa do seu poder económico, face ao dinamismo dos chamados países emergentes, China sobretudo.
A deslocação do centro de gravidade da economia mundial para a Ásia tem consequências geo-estratégicas. No princípio do séc. XX, os Estados Unidos da América (EUA) tornaram-se na primeira potência industrial do Mundo. E mandaram na política internacional depois da II Guerra Mundial, em rivalidade com a União Soviética. Mas o seu peso relativo, ainda grande, está a diminuir.
A Grã-Bretanha, onde nasceu a Revolução Industrial, dominou os mares durante séculos e teve um império onde o sol não se punha, de tal forma era extenso. Mas a Grã-Bretanha tornou-se um país de média dimensão, sem império e até dependente da sua antiga colónia, os EUA. No entanto, a maioria dos britânicos não vive hoje pior do que vivia há cem anos, pelo contrário.
Na economia, o bem dos outros é também o nosso bem. Não é verdade que uns só podem melhorar se outros piorarem. Quando a Alemanha, no final do séc. XIX, se industrializou, muita gente pensou que a economia britânica seria prejudicada. Pois multiplicou-se então o comércio entre alemães e britânicos, com vantagem para ambos... Temos um outro exemplo dentro de casa: um dos entraves à recuperação económica portuguesa é a recessão em Espanha, nosso principal cliente no comércio e no turismo.
A China começa a fabricar e a exportar não apenas bens de mão-de-obra barata, mas tecnologicamente avançados. Muitos temem que, assim, os EUA e a Europa deixem de poder competir no mercado global. Nos anos 80 era o Japão que metia medo, pela sua dinâmica industrial, no sector automóvel por exemplo. Hoje, receamos a estagnação económica japonesa.
O crescimento económico chinês e de outros países tirou centenas de milhões de pessoas da miséria. Mas todos acabaremos por ganhar com esse crescimento. São mercados que se alargam para as exportações dos países que chegaram mais cedo a níveis altos de desenvolvimento. E os salários chineses são hoje cinco vezes superiores aos que eram há uma década.
Decerto que, até esses ganhos se concretizarem, há períodos de transição que trazem problemas. Também a Revolução Industrial começou com operários a destruírem máquinas, que lhes tiravam trabalho – mas a prazo criou muitos milhões de novos empregos. Só que, entretanto, a exploração do trabalho nas fábricas foi terrível. Demorou a chegar a protecção social às vítimas do progresso.
Importa, por isso, estar atento às actuais vítimas do progresso, mas sem travar o crescimento económico dos países que integravam o antigamente chamado Terceiro Mundo. O que implica afastar a falácia de que a melhoria económica dos outros implica forçosamente o nosso empobrecimento, numa visão estática e não dinâmica do processo de desenvolvimento.
Erro que se aproxima de uma outra falácia, que aparece recorrentemente: a ideia de que já se fizeram tantos progressos científicos e tecnológicos que, agora, já nada ou quase nada resta para inventar. Havia quem defendesse essa ideia há 30 ou 40 anos. Depois disso apareceram os telemóveis, os smartphones e a Internet, que revolucionaram a actividade económica e as nossas vidas; e multiplicou-se o uso de robots. O Mundo é feito de mudança, já dizia Camões. Não, forçosamente,para pior.
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