Álvaro, o ministro que veio do Canadá para combater as vacas sagradas do regime
Por António Ribeiro Ferreira
A inteligência nacional adora doutores e engenheiros, mesmo da treta, e despreza quem vem de fora sem salamaleques e outras imbecilidades
Álvaro Santos Pereira começou mal. Disse que gostava que o tratassem simplesmente por Álvaro. A inteligência nacional não admite que um ministro não goste que o tratem por doutor e engenheiro, mesmo que os cursos sejam da treta. Percebe-se por isso a ânsia de Sócrates e Relvas em arranjarem uns cursos da Farinha Amparo. É assim a triste e miserável elite nacional. Que também despreza os pastéis de nata que o ministro queria exportar. A nata nacional adora outros negócios, sem riscos, tipo PPP ou obras públicas com muitas derrapagens. Foi nesta aldeia de gente que adora fazer de conta que é inteligente que Álvaro Santos Pereira aterrou para ser ministro de muitas pastas e de muitas vacas sagradas. Vamos a elas. Mexer nas leis do trabalho era algo que fazia arrepiar o mais terrível dos patrões. Enfrentar os poderosos sindicatos ainda hoje faz tremer muita gente. Pôr em causa os sagrados direitos adquiridos é uma blasfémia sem perdão nesta terra de Santa Maria e da Santa Esquerda. Atacar a fundo a pornografia das empresas de transportes públicos é como profanar um templo sagrado. Acabar com o lodo nos cais dos portos portugueses é um sacrilégio sem perdão. Negociar com construtoras, bancos, nacionais e estrangeiros, e escritórios de advogados as criminosas PPP é entrar em casa da nata encostada ao Estado sem qualquer espécie de pudor. Mexer no Estado omnipresente para acabar com a pouca vergonha da burocracia que afasta os investimentos é como entrar num vespeiro sem protecção.
Foi tudo isto e muito mais que Passos Coelho entregou de mão beijada a este professor de Economia de 40 anos, que para bem dos seus pecados nunca tinha conhecido por dentro a máquina estatal e os vícios públicos e privados. A esquerda, que olha para o Estado como um pai, às vezes tirano, começou a berrar com Álvaro sempre que o INE e o Eurostat publicavam as estatísticas do desemprego, outro presente que Álvaro recebeu no dia 21 de Junho de 2011. Para esta esquerda velha, cheia de vícios e com uma memória de galinha, é o governo e o ministro da tutela que decretam o fim do desemprego e, já agora, o crescimento da economia.
Álvaro Santos Pereira sobreviveu estes meses a tudo e a todos, até ao próprio governo. Agora começou a levantar a voz, atirou com uma baixa de IRC para 10%, defende a industrialização, fala na Europa como poucos no executivo, atira-se como um leão aos socialistas do défice e da dívida, e de repente saiu do radar dos remodeláveis. É assim a nata nacional. Manhosa, cobarde, incompetente. E muito respeitosa de quem fala grosso e revela um enorme desprezo por tanta indigência.
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