sábado, 22 de setembro de 2012

Uma ilusão?

Nos anos oitenta, nomeadamente no tempo de Reagan e Tatcher, o caminho para o crescimento económico assentava em 3 pilares principais:
 - Saneamento das contas públicas;
 - Estabilidade política e social e existência de uma economia de mercado;
 - Administração pública razoavelmente organizada.
Se um país conseguisse reunir estas três condições com sucesso atraia rapidamente investimento na sua economia e crescia fortemente.

As razões para esta receita simples ser uma quase garantia de sucesso económico para um país, seriam:
 - A circulação de capital, ou crédito, em abundância para investir na economia de bens transaccionáveis;
 - A existência de fortes delimitações geográficas aos investimentos desses mesmos capitais. Naquele tempo investir na Rússia, Europa de Leste ou China era proibido, em África era suicídio e na América Latina um enorme risco. Mesma na Ásia, com excepção de Coreia do Sul e Japão e outros pequenos “tigres”, não se investia. Nestes locais, onde ninguém colocava um centavo, ou o país estava falido, ou era marxista ou o nível de corrupção era tal que era necessário investir o dobro ou triplo para pagar as luvas. Sendo assim, a economia com base na indústria era um exclusivo de Europa e América do Norte.

Nesses mesmos anos 80, os Governos de Cavaco Silva conseguiram juntar com sucesso aquelas 3 premissas e muitos milhões foram investidos por cá, principalmente na industria de ponta e em zonas do interior. Foi uma época gloriosa de crescimento económico que não se repetirá.
Penso que é isto que Gaspar e Passos Coelho procuram: sanear as contas e reorganizar a administração pública com o objectivo de atrair investimentos na economia.
Mas hoje tudo mudou e o grande busílis actual é já não existirem as tais barreiras geográficas ao investimento privado mundial. Hoje vai tudo para a China e restante extremo oriente. Rússia e Europa de Leste procuram investidores e acarinham-nos e tem-no conseguido, África a América Latina estão lentamente a modernizar-se e começam a ser boas alternativas.
Por outro lado, a nossa administração, principalmente a Justiça, continua lenta, burocrática e abusadora e essa é uma grande dificuldade afugentadora dos investidores. Os impostos são elevados e o sistema fiscal incerto.
A conclusão é que a teoria de Passos e Gaspar pode estar ultrapassada e que estaremos todos a perseguir uma ilusão pois o mundo ocidental já não é o local de eleição para investir.
Sendo assim, poderemos concluir que sanear as contas públicas apenas permitirá continuar a viver de empréstimos a juros razoáveis até que tenhamos vendido o nosso país na totalidade. Os nossos descendentes não irão ter país para viver e este território talvez se torne um deserto, à semelhança do que já acontece no interior, ou se torne um país tipo Mauritânia ou Níger com habitantes miseráveis e errantes. A saúde e a educação, o sistema de segurança social geral, a segurança e a protecção civil serão ideais do passado.

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