sábado, 29 de junho de 2013

Cortes desafiam lógica

As contas públicas nacionais são um labirinto complicado. Há dinheiro para pagar o subsídio de férias aos funcionários públicos e pensionistas mas não se paga sem mais explicações, há dinheiro para amortizar as incríveis SWAP, há verba disponível para despedir e indemnizar professores e outros que estejam a mais no mundo dos servidores do Estado, não falta vontade politica para lubrificar a gestão ruinosa do Banif com milhões de euros de todos nós. Até se diz que há folga orçamental para reduzir impostos, o que me parece uma fantasia manhosa própria de tempos próximos de eleições 
Há euros para tudo e ao mesmo tempo aparecem estes buracos gigantescos da gigantesca administração pública que rapina tudo o que a nação produz.
Gaspar, secundado pelo frio e imperturbável Passos, está obcecado pela redução da despesa pública e pelo alcance a prazo razoável do deficit zero. Não se vislumbra um motivo para que o Ministro das Finanças não tenha ainda visto a montanha a pouca distância. Se a reforma das autarquias fosse feita com a diminuição para metade dos inúmeros concelhos existentes ou se extinguissem serviços do Estado que trabalham para eles próprios ou que se duplicam e atrapalham uns aos outros e que são bastante frequentes, o politicamente debilitado Gaspar veria facilitada a sua espinhosa missão e não teria de bulir nos ordenados de tanta gente.
No caso da redução de concelhos bastou uma conversa do truculento presidente de Viseu com Passos para que a medida passasse para o âmbito das indefesas freguesias. O que é uma postura dos poderes lamentável.   

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Bancos abusam nas comissões

DECO quer acabar com comissões nas contas à ordem
A DECO considera estes encargos abusivos e quer tornar obrigatório o envio aos clientes um extracto anual com todas as despesas suportadas

Desde que os bancos deixaram em segundo plano a sua actividade primordial e correcta - recordando: receber depósitos de capital, pagando um juro e emprestando a quem necessita para actividades económicas que proporcionem lucro, cobrando um juro mais elevado, sendo este o ganho legítimo da instituição financeira - que a banca tem descido a sua cota de imagem de honestidade institucional junto do mercado. 

Esta notícia das revoltantes e abusivas comissões bancárias que penalizam os mais pobres, faz parte das novas fontes de receitas da banca e é mais uma acha na fogueira de queima dos bancos e dos banqueiros.
Era muito positivo que os grandes financeiros olhassem no longo prazo e fizessem as contas aos inúmeros prejuízos que a extrema má imagem actual do sistema financeiro junto do mercado lhes irá causar, aliás este fenómeno já é bem visível.

Por outro lado, o tipo de negócios que os bancos privilegiam (jogar na bolsa, emprestar para férias e operações estéticas a gente de bem, sacar comissões a clientes dependentes e indefesos pelos motivos mais fúteis e outros, quase todos com risíveis benefícios para a economia nacional) é um bom motivo para o Estado acabar com quaisquer vantagem que a banca possa ter em relação às restantes empresas, nomeadamente fiscais e ajudas em recuperação de situações financeiras difíceis por má gestão ou crise internacional.    

O juiz reformado Sousa

O juiz reformado Sousa até foi um bom provedor de Justiça. São conhecidas recomendações suas, ou do seu gabinete, que foram acatadas sem dificuldade ou controvérsias por serem consideradas justas e bem fundamentadas. Às vezes até por órgãos de poder que não costumam recuar nas suas posições.

Mas o provedor colocou-se numa posição de adversário do Governo muito ostensiva, violando o principio "sagrado" da independência acima de toda a suspeita que alguns titulares de órgãos de administração pública ou soberania devem manter acima de tudo, mesmo da espuma rotineira das convulsões politico partidárias. Contudo, Sousa não resistiu à tentação da fama e reconhecimento pela oposição de ser mais um combatente do Governo e da austeridade. Está agora a pagar pelo erro perdendo o apoio da direita para a sua reeleição o que é um vexame, embora ele diga que nunca pretendeu ser reconduzido.

Fica a perder a Provedoria de Justiça.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tumultos no Brasil

Com enormes problemas no sistema de educação, saúde e transportes públicos. Com aquelas favelas vergonhosas em todas as grandes cidades onde vegetam milhões de pessoas, como é possível um país assim organizar campeonatos de futebol e jogos olímpicos, ainda por cima já com enormes derrapagens e suspeitas de roubos e desvios?

Parabéns ao povo brasileiro por mostrar que não é alienado pelas aparências. Subiu na consideração de muitos.

Evitem apenas o vandalismo e a violência. 

sábado, 8 de junho de 2013

Paulo Morais

Entrevista de Paulo Morais ao Jornal I

O vice-presidente da Transparência e Integridade diz que um de quatro políticos foi corrupto no caso dos submarinos

A entrevista era para ter sido feito às 11h do dia seguinte, mas Paulo Morais teve de mudar os planos por mais uma vez ter sido chamado como testemunha num processo. É assim desde que se tornou uma das principais vozes contra a corrupção em Portugal. Vice-presidente da Associação Transparência e Integridade - pela qual não recebe nada, nem sequer ajudas às deslocações - lançou há uma semana o livro "Da Corrupção à Crise". Já perdeu a conta às chamadas que recebeu de políticos indignados com o que diz. Às vezes, desliga-lhes o telefone.
Como é que alguém que foi político está a combater a corrupção? Isso não é um paradoxo?
As pessoas devem combater a corrupção em qualquer circunstância. E se exercem cargos públicos mais obrigação têm de o fazer. Fiz apenas um mandato como vice-presidente da câmara do Porto e passei a campanha eleitoral e todos os anos do meu mandato no mesmo combate. Sempre percebi que, se Portugal não tivesse corrupção, podia ser um país com uns níveis de vida da Suécia ou da Noruega.
Esse mandato no Porto foi para esquecer?
Só aceitei concorrer porque íamos perder. Era o Fernando Gomes que ia ganhar as eleições. Não estava nas minhas ambições ser autarca. Sendo certo que ganhámos. E sendo certo, porém, que só me convidaram para aquele cargo porque pensavam que íamos perder. Se fosse para ganhar tinham convidado outro. Aí estamos quites. Mas a partir do momento que ganhámos tinha de cumprir. E fi-lo com muito gosto. Enquanto viver em Portugal sempre contrariarei aqueles que são os defeitos da política que obrigam todo um povo a viver mal.
Quantas queixas já apresentou?
Chegam-me muitas denúncias. O que tenho vindo a fazer é denunciar junto do Ministério Público (MP), sobretudo na área do urbanismo, a que sou particularmente sensível. Serei hoje o maior denunciante de crimes de urbanismo em Portugal.
E quantos já teve contra si?
Não sei precisar. Neste momento seis ou sete, porque as pessoas se sentem difamadas. O único que chegou até ao fim, de um promotor imobiliário da Figueira da foz, eu ganhei. Sou ainda muitas vezes chamado como testemunha para outras litigâncias. Muitas pessoas bem intencionadas indicam o meu nome como testemunha de processos em que acham que posso ser uma mais-valia. E eu vou, enquanto puder ajudar a que se faça justiça.
E os casos que denunciou, já conseguiu que algum chegasse ao fim?
Tenho uma panóplia. O Ministério Público tem apreciado e é com alguma perplexidade que vejo alguns arquivados, como o do Metro do Porto. Em determinado momento o Metro do Porto resolveu adquirir uns terrenos no Campo dos Salgueiros. Estavam avaliados na ordem dos 5 milhões de euros. Mas o Metro decidiu pagar quase 9 milhões por um terreno que sabia valer menos de 5 milhões. Fiz uma denúncia, apresentei documentos oficiais, avaliações, actas do conselho de administração do Metro, e o MP entendeu arquivar o processo porque não sabia onde estavam os 4 milhões de euros sobrantes. O povo português foi roubado em 4 milhões só naquele negócio.
Não há corrupção no Porto? Pelo menos não temos notícia dela.
Não há corrupção em lado nenhum. No crime de corrupção é preciso saber qual o objecto da corrupção, qual o ganho patrimonial, qual é o corrupto, o corruptor, o nexo de causalidade, as conexões. Só há acusações de corrupção se o corrupto e o corruptor forem de braço dado ao tribunal e mesmo assim duvido. Mas nos outros, como peculato ou a prevaricação, pode haver desenvolvimentos, são de acusação relativamente fácil. Mas raramente se abrem inquéritos, quando se abrem raramente há acusações, quando há acusações poucas vezes há julgamentos, quando há julgamentos raramente há condenações e mesmo quando há condenações os indivíduos não são presos.
Por que é que isso acontece?
Porque as leis são complexas, porque a justiça está desorganizada e funciona de forma medieval. Se entrarmos num tribunal, 70% das pessoas que lá estão estão à espera. Aquilo devia chamar-se palácio da espera e não Palácio da Justiça.
Foi difícil marcar esta entrevista. Ainda tem tempo para respirar?
Tenho muito que fazer. Sou matemático e isso também influencia a minha organização. Por regra de manhã trato da componente mais académica de investigação. De tarde dou aulas. Depois ao fim da tarde e ao fim-de-semana é que trato da minha vida cívica. A minha função enquanto autor da luta contra a corrupção corre nos meus tempos livres. Tenho uma vida muito preenchida, ainda com um handicap, que é viver no Porto. A minha vida privada começa sábado ao fim da tarde e acaba domingo à noite.
Metade de Portugal deve pensar que vem de Direito.
Porque estão habituados a que na classe política estejam pessoas de Direito, Economia, engenheiros. Portugal está a precisar de matemáticos, nomeadamente na política, para fazerem bem as contas. É a falta de literacia matemática que permite que as pessoas sejam tão enganadas. Os portugueses ouvem falar de números e acham sempre que é muito dinheiro, mas não têm uma noção exacta. Não sabem que a maior parte da despesa do Estado em 2013 vai ser com juros da dívida pública. Vai-se gastar mais nisso do que em todo o SNS, Educação, todos os salários da função pública. Também não sabem que as autarquias gastam per capita por ano mil euros por cada cidadão. As pessoas deviam questionar-se: qual é a receita? Qual é o benefício na minha qualidade de vida? Raramente é mais que zero. E para onde vão então estes recursos? Cerca de metade vai para pagar às quantidades enormes de boys que lá entram, a outra metade vai para megalomanias, caprichos, obras sem sentido nenhum, corrupção. O aumento da transparência é a primeira das armas de combate à corrupção. Nos Estados Unidos, Reino Unido, Timor, Brasil, todo o país minimamente desenvolvido tem um site onde as pessoas conseguem ver qual é a receita e a despesa da sua administração. A isto chama-se transparência orçamental, que em Portugal não existe. Além disto, é preciso que um edifício construído sem cumprir o planeamento seja demolido ou recuperado para a sociedade a valor zero. É violento? Claro que é. Mas faz-se uma ou duas vezes e tem um efeito dissuasor. Outro exemplo é o BPN: se ele custou aos portugueses 6 mil milhões de euros, é preciso recuperar parte significativa desse prejuízo. Como? Indo a uma sociedade chamada Parvalorem, que herdou a parte má do BPN. É possível fazer uma avaliação do prejuízo induzido pela gestão danosa e obrigar os responsáveis a pagar através do seu património ou através do património que ainda hoje detém, que é a Galilei, uma das sociedades mais poderosas de Portugal.
Como é que se gere a Transparência e Integridade?
É uma organização muito leve. O objectivo é estudar o fenómeno da corrupção para melhor a conhecer e combatê-la. Temos um pequeno secretariado em Lisboa, um orçamento de poucos milhares de euros, e tudo o resto é trabalhado voluntário. Vivemos de donativos, que têm um tecto, para não ficarmos reféns de ninguém.
Não recebe nada? Nem deslocações?
Nada. Cada um paga as suas.
Onde é que guarda toda a informação que lhe chega?
Muita dela é pública, não precisa de um cuidado especial. Aquela mais importante e confidencial normalmente é duplicada, guardada num banco e noutro local.
Se tivesse acesso a ela teria manchetes para os próximos três meses?
Se as pessoas tivessem ideia da forma como estão em permanência a ser roubadas não só ia ter manchetes todos os dias como íamos ter revoluções todos os dias. O chumbo de quatro normas do Orçamento pelo Tribunal Constitucional terá representado um buraco de mil milhões de euros. Isso foi só o que o Estado português pagou a mais pelas PPP rodoviárias num ano. Nem foi o que pagou, foi o que pagou a mais. Nas mesmas PPP está previsto que haja uma compensação à diminuição da sinistralidade e multas pelo aumento de sinistralidade. Acontece que são compensados de maneira distinta. Numa SCUT como a A28, se a sinistralidade tiver um aumento de 10% o concessionário terá de pagar uma multa de cerca de 600 mil euros, mas se diminuir 10% pode receber 20 e tal milhões de euros.
Como é que se aceitaram estes contratos? Houve falta de matemáticos?
Quem pôs lá aquelas fórmulas, ou não percebe nada de matemática, e é incompetente, ou não é sério. Com uma Polícia Judiciária e um MP actuante era prender a pessoa que pôs ali aquela fórmula.
O problema é que continuam a ser investigadas e estamos a falar de contratos muito técnicos. Os investigadores têm preparação?
Devem socorrer-se de ajuda técnica e têm-no feito. Já forneci às entidades alguma informação, é preciso é que a utilizem. Noutros ordenamentos jurídicos com outro tipo de organização e legislação as coisas são bem mais rápidas. Veja-se o caso dos submarinos.
Na Alemanha já houve condenados, aqui nem acusados há.
Houve corrupção, ponto final, que já foi provada pelos tribunais alemães. Fico desgostoso por as investigações serem tão lentos, mas fico perplexo por as pessoas envolvidas não quererem esclarecer o assunto. A aquisição dos submarinos dá-se entre o governo de Guterres, tendo como ministro o Rui Pena, e o de Durão Barroso, com Paulo Portas a ministro da Defesa. Pelo menos um destes quatro senhores ou é corrupto ou é cúmplice. Como é sabido quem compra submarinos não é o porteiro do ministério. Dois deles têm cargos internacionais. Um deles é ministro dos negócios estrangeiros. Como é que estas pessoas se permitem a representar Portugal internacionalmente com a suspeição de que estão ligadas a casos de corrupção?
Nenhum deles alguma vez foi ouvido no processo. Estas pessoas são protegidas?
É pior que isso. Há procuradores que iniciam inquéritos que envolve gente importante. O que se diz é que não têm meios. Acontece que o caso dos submarinos já não é um caso de justiça, é um caso de regime. O governo, o parlamento, o presidente da república, tinham toda a obrigação de esclarecer este caso. Haver corrupção provada na aquisição dos submarinos e em Portugal não acontecer nada? Isso é do regular funcionamento das instituições? Isto não é um problema do aparelho judicial, é bem mais profundo.
Há políticos honestos?
Há, claro que há. Eles dividem-se em três grupos: os corruptos são uma minoria - serão 10% e 15% - só que é uma minoria que manda na maioria do dinheiro. Depois, há do outro lado da vida pública, um pequeno grupo de resistentes. No meio há uma quantidade imensa de cúmplices que são medrosos, têm medo de perder as poucas migalhas que têm pelo facto de serem políticos. Dá um estatuto social nalguns locais, uns bilhetes para o cinema e para o teatro, consegue-se mais depressa fazer obras na casa da sogra.
E os que cooperam podem vir a ser corruptos mais tarde?
Acontece muitas vezes serem absorvidos pelo sistema.
A corrupção tem partido?
Não. Ninguém escapa, depois é evidente que as responsabilidades são proporcionais ao peso que cada partidos tem. Bastará ver que não encontra no parlamento partidos que combatam veementemente a corrupção. Porque será?
O poder local é o mais permeável?
As câmaras são as maiores agências de emprego do país. Nos concelhos com menos de 10 mil eleitores a questão é ainda mais grave porque nesses o maior empregador é a câmara. O segundo maior ou é a misericórdia local ou uma instituição de solidariedade social. O terceiro é uma média empresa mas que está permanentemente a solicitar autorizações e licenças à câmara. Cria-se aqui uma rede clientelar em que só tem acesso a emprego quem é afilhado do presidente da câmara, sobrinho do presidente da câmara, membro do partido do presidente da câmara.
E como é que isto se extermina?
Quando os negócios do urbanismo deixarem de dominar as câmaras municipais. A esta hora, em muitos gabinetes, estão a redesenhar-se planos directores municipais para valorizar terrenos.
Esses negócios do urbanismo deviam deixar rasto. No caso de Joaquim Raposo, na Amadora, o caso acabou arquivado ao fim de dez anos.
Nos crimes de urbanismo a investigação é simples. Tenho mostrado essa perplexidade a procuradores que são meus amigos. A testemunha do crime é inamovível. O prédio não foge, não tem pernas. Bastará ver se não cumprir o planeamento por ordem de quem é que se emitiu aquela licença, qual a data do documento que permitiu o alvará de loteamento, qual era o organigrama da câmara nesse dia, qual o regime de delegação de competências. Com estes três papelinhos está identificado o responsável. Sucede que a maioria das investigações acaba no momento em que devia começar.
As queixas que apresentou em relação ao Porto acabaram todas arquivadas.
A maioria das denúncias que fiz têm a ver com pressões que sofri quando era vereador do Urbanismo. E essas foram arquivadas. Não entendo porquê, pois acontecia-me ter reuniões com membros do governo cuja primeira preocupação era tratar de assuntos urbanísticos deles ou dos amigos. Não acho que vereadores das maiores câmaras do país se devam reunir com membros do governo para tratar de assuntos particulares. Mesmo se a pretensão fosse levar a cabo operações urbanísticas legais a sua atitude era ilegítima. Ninguém pode enquanto governante andar a tratar da vida particular.
Mas havia documentos?
Eram coisas muito fáceis de sustentar. Havia uma tentativa permanente de me influenciar a aprovar operações urbanísticas ilegais, o que obviamente eu não podia fazer. A lei não permite, a minha consciência muito menos, e tinha obrigação de as denunciar.
Se esses nomes que o pressionaram viessem para a praça pública ficaríamos chocados?
Sim, nalguns casos. Há aí muita gente na política com um ar muito sisudo que não é sério. O Dr. Oliveira Salazar passou uma mensagem à sociedade portuguesa de que para uma pessoa ser séria e competente tem de ter um fato cinzento, uma gravata escura, ser magra de preferência, e ter um certo ar de mal disposto. Do outro lado, está o político bonacheirão e incompetente. Na primeira linha estão Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite. Na segunda, Mário Soares, António Guterres. Oliveira Salazar percebendo isso deu um ar de pessoa séria e que só tinha 40 contos no banco quando à volta dele era só gente a roubar.
Tem muitos inimigos?
Tenho acumulado muitos. Na classe política portuguesa, quando enfatizo alguns aspectos que até são públicos, algumas pessoas telefonam-me indignadas. Explico-lhes que o meu ponto de vista é claro, que se sentem ofendidos podem recorrer para os tribunais, agora não peçam para eu calar aquilo que julgo que as pessoas querem saber. Quando são menos bem educadas desligo-lhes o telefone. Tem acontecido algumas vezes. E depois há um terceiro grupo de pessoas que são aquelas que são ainda mais simpáticas comigo na esperança de que não venha a falar delas. Não vale a pena.
Às vezes não se sente uma espécie de Dom Quixote a lutar contra moinhos de vento?
Não estou sozinho. Ainda assim, o combate à corrupção é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. É um caminho lento, em que os resultados só se começarão a fazer sentir quando se sentir nas ruas uma forte censura social à corrupção. Quando acontecer o que acontecia em Itália em que a máfia dominava a política. Aí eles entravam em restaurantes e atiravam-lhes moedas de cêntimos. Nos últimos dez anos, tivemos uma depreciação enorme nos indicadores internacionais de transparência. Em 2000 ocupávamos o 23º lugar, em 2013 o 33º. No meu plano pessoal fiz um contrato com a minha mulher: se daqui a quatro ou cinco anos não houver uma verdadeira inflexão neste fenómeno eu é que me vou embora. Não tenho resistência psicológica para ver o meu país a afundar-se, as pessoas pobres a ficarem miseráveis, a classe média a desaparecer, toda a gente a viver mal e eu a olhar. Não quero que os meus filhos e os netos que hei-de ter vivam num país que está condenado a ser a Albânia da Europa Ocidental.
A corrupção é uma causa da crise mas por outro lado não deixa as pessoas mais vulneráveis à corrupção?
É verdade. Mas as pessoas não devem ter remorsos de ter gasto acima das suas possibilidades - isso representa apenas 15% da dívida privada. Devem sentir sim uma raiva genuína pelo facto de o Estado ter andado a viver acima das nossas possibilidades e uma série de grupos económicos a alimentar-se da manjedoura que é o orçamento do Estado. E andaram-se a fazer negócios ao nível do urbanismo e a atribuir lugares aos apaniguados do partido. Quem manda nisto tudo? Os poderes económicos que mandam no sistema. Aqueles que não tendo o poder na mão têm a mão no poder.
Há sectores mais permeáveis à corrupção?
O sector financeiro e os promotores imobiliários são os que beneficiam mais.
Há falta de transparência na contratação pública dos grandes escritórios de advogados?
Há benefício a algumas que depois montam a teia que mantém a corrupção. O código de contratação pública foi feito pela sociedade Sérvulo Correia, que já facturou em pareceres 8 milhões de euros para explicar o que eles próprios fizeram. Não bastasse isso, depois ainda são estes que vão vender aos privados alçapões que introduziram na própria lei. E ainda vão litigar para os tribunais com as leis que fizeram.
E houve falta de transparência nas privatizações deste governo?
A opacidade foi absoluta. Uma das preocupações que manifestámos junto da troika foi justamente no âmbito das privatizações: ou se faziam como na bolsa em leilão competitivo, ou então o que tinha de acontecer era uma avaliação independente, internacional. Não aconteceu nada disto. O governo decidiu de forma opaca os processos de privatização. No caso da alienação de capital da EDP, foi nomeada uma comissão constituída por Daniel Bessa e outros, só que era governamental. Obviamente que a entidade que no parlamento devia fiscalizar é a comissão de acompanhamento do programa da troika. Mas nessa, para avaliar o processo de privatização da EDP, temos Miguel Frasquilho, que pertence ao Grupo Espírito Santo e à sociedade que assessorou os chineses na compra da EDP; Adolfo Mesquita Nunes, que pertence à sociedade de advogados Morais Leitão, Galvão Teles e Associados, que trabalhava para o governo nas questões da EDP e trabalha para a EDP. Tem ainda um deputado chamado Pedro Pinto cuja actividade profissional principal é ser consultor em duas empresas que dependem da EDP. Ou seja, esta comissão é constituída por pessoas que dependem da EDP ou vão assessorar os chineses na compra da EDP. Obviamente que também não é esta comissão que vai fiscalizar o processo. Mesmo o conselho de prevenção da corrupção apareceu a fiscalizar quando já estava concluído. Ou seja, veio fazer fiscalização a posteriori, o que em termos semânticos é um pouco estranho. Qual foi a transparência do processo? Nenhuma. Se foi sério não sei, mas transparente não foi e foi tao pouco claro que ao fim de três meses já andava o MP a investigá-lo.
Sempre que há um mega processo em Portugal de fraude e branqueamento de capitais abre-se um programa de repatriamento de capitais. Isto não é estar a perdoar crimes?
Isso é prática em muitos países. O problema é que só fazem isso nas pequenas fugas. Façam nas grandes. Defendo que se os donos da ex-SLN quiserem devolver 3 mil milhões de euros ao Estado português devem ser amnistiados.
Como se explica que um povo continue ao lado de um político condenado, como acontece em Oeiras?
Nos concelhos com seis mil eleitores e em que 400 pessoas trabalham na câmara, a rede de interesses e de favores é de tal ordem que se sobrepõe a uma votação livre e democrática. Nos concelhos grandes o que acontece é que a corrupção instalou-se de tal forma que os cidadãos já estão tão descrentes que a probabilidade de ter um político corrupto é muito grande. Entre ter um político que não faz nada e um corrupto que faz preferem um que faz. Os cartazes do Ademar de Barros quando concorreu a governador do Estado de São Paulo diziam isso mesmo: Ademar de Barros rouba mas faz. É um sinal da total deterioração da democracia.

Nelson Mandela

Mandela voltou a ser hospitalizado devido a infeção pulmonar
O antigo Presidente de África do Sul e Nobel da Paz Nelson Mandela, de 94 anos encontra-se em estado "preocupante, mas estável"

Mandela está a ter um fim prolongado e doloroso, não foi dos felizardos que, no fim da vida, têm uma morte instantânea ou durante o sono.
Mas as imagens que têm sido publicadas do maior estadista/humanista do século XX, em sofrimento, não deveriam existir. Todos deveríamos recordar apenas o seu sorriso conciliador e pacificador com que governou a África do Sul - evitando um genocídio e a destruição de mais um país africano.  

Dilma

Dilma vem, mas não se sabe quando
A presidente brasileira Dilma Roussef vem a Lisboa para uma visita oficial no dia 10, mas a sua chegada é uma incógnita.

Esta senhora Presidenta tem mostrado muito desprezo por Portugal. Será que pertence ao grupo de brasileiros que acredita que nós lhes roubamos o ouro todo? 

Mas quando cá chegar vai com certeza dizer que Portugal é um país "maravilhoso". 


Limitação de mandatos

A limitação de mandatos não vai resolver o problema da má gestão e corrupção nas Câmaras Municipais. Se forem eleitos dois corruptos ao longo de 6 mandatos a corrupção e o nepotismo continuarão. Mas é uma ajuda e evita a situação extraordinária de ver um presidente 30 ou 40 anos no mesmo posto, lidando com dinheiros públicos e criando uma rede de amigos e negócios que não é saudável.
Por outro lado, quem está no poder tem mais hipóteses de ser eleito devido ao conservadorismo natural do nosso povo e aos meios camarários que, geralmente, são usados nas campanhas em favor do poder existente.
Só é pena que a limitação de mandatos não seja alargada a Deputados, Presidentes de Governos Regionais, membros do Governo. E, já agora, que os Deputados da Assembleia da República tenham dedicação exclusiva, sejam em muito menor número e não possam continuar com o escândalo de entregar a feitura de leis a escritórios de advogados famosos contra milhões de euros. Os políticos portugueses honestos têm de ver estas questões e reformar e dignificar a política portuguesa.
Já agora se se pudesse ir prendendo uns corruptos de colarinho branco. Só Duarte Lima é muito pouco, ainda por cima, neste caso, sob pressão da acusação que lhe é feita na Brasil e não como epilogo normal de uma investigação judicial normal.    

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Despedimentos

Solvay despede 90 trabalhadores em Portugal
Empresa belga vai encerrar uma unidade da fábrica na Póvoa de Santa Iria, que afetará pelo menos 90 dos 250 trabalhadores.

É este permanente, contínuo e persistente encerramento e/ou deslocalização de empresas multinacionais a causa primeira da queda da nossa economia. Ainda por cima sem que se criem novas empresas que dinamizem a economia e sem que se antevejam mudanças significativas num futuro próximo. 
     

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Greve geral - apenas mais uma

Greve no privado com grande adesão? Isso deve ser entusiasmo momentâneo de quem adora estas coisas revolucionárias. No privado, muitos  trabalhadores prescindem de parte do ordenado, de horas extras e fazem tudo para manter a sua empresa e funcionar, preservando o seu trabalho, vão lá agora fazer greve.
Aliás, a adesão dos trabalhadores no privado vai ser analisado à lupa e será a maior derrota dos sindicalistas que vivem, pagos pelo Estado, da actividade sindical e tão mau serviço têm prestado aos trabalhadores.

Seguro quieto

Quem já não pede eleições é Seguro. Está quieto no seu canto a promover conversas com os restantes partidos, dizendo que vai fazer coligações mesmo com maioria absoluta e calmamente aguardando a fim deste mandato do PSD/CDS. Ele sabe quanto mais tempo Gaspar e Passos estiverem no Governo mais se reduzirá a despesa estrutural do Estado e ele já deu a entender que não pode prometer baixar impostos e muito menos aumentar a despesa do Estado. Quanto mais Passos reduzir os custos públicos menos terá ele de o fazer quando for poder (se é que vai ser - as sondagens autárquicas que o JN publicou este fim de semana não indiciam o tal desastre eleitoral, pelo contrário). 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Economia de rastos

Todo o processo de reajustamento tem como consequência aumento do desemprego, da divida e forte recessão económica. Portugal tinha e ainda tem uma economia muito dependente do Estado e do seu orçamento o que não é saudável e agrava bastante as premissas anteriores.
Mas não vale a pena explicar ou argumentar esta questão. Como é que um desempregado com fome e sem poder alimentar os filhos compreende ou sequer consegue ouvir estas razões?
Convém também dizer que quanto às previsões o Governo deveria usar a modelação de expectativas que tem usado nas medidas de austeridade, ou seja, informar que o desemprego vai ser 20% e obter 17%; afirmar que a divida pública vai ser de 126% e ficar nos 123%. Como tem feito e continua a fazer, que é o oposto, agrava o descontentamento e o medo do futuro pela incerteza que se cria. Alguns economistas mais esclarecidos têm referido que o desemprego vai chegar aos 25% por volta de 2014. Estará o País preparado para uma calamidade destas, ainda por cima com as previsões e expectativas enganadoras de 18% ou 19%?  

PCP e BE no poder

Para o BE e PC aceitarem ir para o poder tínhamos desde logo de rasgar o pacto de agressão, deixar de pagar a divida caso não nos baixassem os juros e alongassem os prazos. Se fosse o PCP teríamos de sair do Euro e, como consequência da UE.
De seguida eles poderiam exigir a saída da NATO e a nacionalização banca e dos seguros assim como de toda a já reduzida indústria nacional de médias e grandes dimensões.
Bastam estes dados para compreender a reticências dos PS mais responsáveis (o que não é caso de Mário Soares) em unir-se a gente das áreas políticas mais irresponsáveis da esquerda, a não ser é claro na luta contra Passos. 

Eliminar Concelhos

Não adianta estar a remoer o passado há que olhar o futuro e pensar o quanto se poderia reduzir a despesa pública se eliminassem 30% ou 40% dos concelhos.
No interior mais deprimido e abandonado não se deveria mexer, até se poderiam restaurar as freguesias eliminadas pelo ex Ministro Relvas, mas no litoral e áreas mais desenvolvidas agregar concelhos seria uma óptima solução para reduzir custos. O académico Poiares, já que é tão galardoado em títulos, poderia pegar nesta missão.
Deixo uma dica: se a poupança fosse entregue em parte  e a prazo aos novos concelhos não haveria tanta resistência popular e de caciques. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Vasco e a loucura do PREC

Só para lembrar que o PCP já governou (gonçalvismo) com os desastrosos resultados conhecidos e que quase descambou em guerra civil.
Em todo o mundo não há um exemplo de um regime comunista que tenha trazido prosperidade, apenas trouxeram ditaduras, polícia política, fome e regressão cívica e económica.
Ainda hoje os portugueses vivem aterrorizados com a possibilidade de os comunistas regressarem ao poder - nem com a atroz situação de miséria que vivemos o PC arranca nas sondagens, o que faz pensar.

Greve dos profs aos exames

A greve é um direito constitucional e normal em qualquer sociedade democrática.
(pessoalmente acho que é uma forma de luta inútil e ultrapassada, principalmente se for utilizada em excesso).
Mas quando os professores fazem greve em dia de exames é um acto totalmente irresponsável e que desconsidera de forma grotesca o esforço dos alunos - é inimaginável o sofrimento de um aluno que após ter estudado horas sem fim chega à escola e dizem-lhe que não há teste por greve. Além da sensação perigosa incutida no estudante de ser inútil estudar durante a preparação pela incerteza de realização do exame.
É como um médico fazer greve a uma cirurgia com o doente já anestesiado, ou o condutor do metro parar entre estações e expulsar os passageiros da composição.
A esquerda radical quer ser poder a prazo. Sendo os máximos apoiantes destas greves não se augura bom futuro para os integristas do socialismo real, pelo contrário. A total e continua rejeição do povo nas eleições por esta gente irá manter-se. 

Madeira em análise

Presidente da Câmara do Funchal vítima de vandalismo
O carro de Miguel Albuquerque, social-democrata adversário de João Jardim, apareceu hoje com marcas de picareta. O autarca pensa que o querem intimidar.

Boa parte da classe dirigente e política da Madeira precisa de aconselhamento psiquiátrico urgente e profissional. Não me recordo de ver tamanha demonstração de bandalheira, loucura e anormalidade na política portuguesa como o que todos verificamos ser a situação política demente da Ilha.
Claro que quem paga a factura é o patriótico e esforçado povo madeirense que se arruinou com as obras faraónicas e o total desperdício de recursos públicos que por lá se verificou.